segunda-feira, 20 de maio de 2013

Rubem Braga não sabe de nada #2

“Há sempre um copo de mar para um homem navegar.”
                                                                 Jorge de Lima


por Lais Ferreira

      Acordava sempre cedo e antes que se pudesse discernir o espaço em que agora se encontrava. De fato, conquanto o quarto hoje fosse cada dia maior, a luz que advinha do teto irradiava sempre antes que se pudesse ensurdecer pelo galo. Na ausência do incômodo do som grave, bem pouco se enraivecia com a ausência das telhas de amianto que desbloqueavam o céu. E até mesmo o frio que sentia ao encostar os pés rachados no chão apenas batido em terra.

     Nos poucos momentos em que saía a rua, tinha-se sempre a irreversibilidade das horas nos canteiros sujos da Rua 15. Como houvera mudado o receio de caminhar na rua ainda de terra e aquele antigo desgosto por azaleias. Sempre pensara sê-las as flores mais esquisitas daquela cidade de joelhos rasgados, apesar das pernas longas. Florescer em maio nunca pudera significar nada maior que saber da vida a eterna resignação diante da parca alegria para se viver setembro. Setembro morno, setembro público, setembro a parir a espera do ano. 

      Até quando soube da contagem inexata dos homens. Ao se cruzar a rua, às vezes se alcança a casa e, nas raras miudezas dos nós, esbarra-se sempre naqueles vestidos de verde e de cabelos soltos. Em setembro, talvez ainda fosse possível dizer-se do recomeço na margem do fim e, no fim da margem, expandir-se o suficiente para não mais habitar. Apenas morar no conforto nebuloso e claro da ausência de nomes. Suspende-se sempre a necessidade por significantes, pois os gritos dos olhos constroem o silêncio exato das canções sustentadas por rimas pobres e versos brancos. 

      Mas passam-se os meses e maio sempre nos alcança. Devíamos, talvez, tornamo-nos gris como todos os homens em progresso, a caminhar depressa e altivos com os maxilares cômicos. Quiçá, havíamos ainda de balbuciar sentimentos em letras agressivas, a fim de sermos reconhecidos por todos que também se esquecem dos poucos instantes em que foram livres. Ou, quem sabe, tornamo-nos escritores, cronistas, jornalistas, literatos e concebermos no pretenso realismo e no domínio do fato a segurança inexistente em nossa condição. 

     Apenas atitudes vãs. Com essas mãos tímidas, façamos apenas alguns gestos gentis o suficiente para se abrir a porta. No estoicismo de nossas manhãs, permaneçamos. Mudemos de casa sempre, reinventemos o espaço-tempo nos corpos cambaios, e bem pouco saibamos da materialidade de casa. O mar sempre chega àqueles que aceitam tornar a brisa que acossa em braço de mar. E amar é sempre água a emudecer a distância inerente na incapacidade de se fazer duo seres antes apenas vagos na inexorabilidade de sê-los. 

      Bem pouco nos disse Braga. Salvemos as páginas brancas.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Rubem Braga não sabe de nada.
A distância não apaga, ela confirma; ela aprofunda. Mostra que o que parecia grande na verdade é maior ainda. E a espera vale a pena. A distância é um fôlego necessário pra quem entende o que ela significa.
Apesar dos pesares.